Esther Louro e Maria da Graça Siqueira
Histórias de mulheres que fazem
trabalho de homem não é exclusividade de tramas da TV. Elas dão conta de cuidar
da casa e dos filhos e ainda enfrentam contratempos e exigências de profissões
tradicionalmente masculinas. E, apesar das dificuldades, elas gostam de seus
ofícios. “A homenagem feita pela revista Perfil Mulher, onde recebi o troféu Prêmio
Top Performance 20 Mulheres de Sucesso, foi a que mais me emocionou”,
afirma Maria de Fátima Rezende, 50 anos.
Atualmente
residindo em Pelotas, onde cursa Nutrição na Universidade Federal de Pelotas
(UFPel), a Capitão Maria de Fátima foi entrevistada na segunda (31). Em Taubaté
(SP) está sua família, habituada com suas corajosas escolhas, torcendo para que
obtenha sucesso em sua nova decisão. Destemida desde os 22 anos, quando entrou
para a carreira militar, nunca pensou em desistir e hoje se considera feliz
mesmo longe dos filhos, com quem mantém contato diário. Cursar a faculdade tão
longe de casa, conviver com colegas com menos da metade de sua idade e começar
de novo, são desafios que enfrenta com um sorriso.
Sobre
estar fazendo o trabalho, que normalmente é feito por um homem, afirma que “Sentia-me assim inicialmente, quando o
número de policiais militares femininos era bastante reduzido, mas com o tempo
isso aí foi sendo visto de uma forma mais natural pela população. Na verdade o
que sentia de diferente era um certo preconceito pelos próprios colegas de
trabalho.”
Sabemos que as mulheres, independente do
trabalho que executam, ainda dividem-se nas tarefas do lar, como esposa e mãe.
Fátima não é diferente, e nos diz que “Não
foi mais difícil porque o meu marido era policial militar também. Então com
relação ao entendimento da carreira em si foi fácil administrar. Com relação
aos filhos eu tive apoio da minha sogra. Eu morava nos fundos da casa da minha
sogra, então tive bastante apoio dela e da minha irmã que também morava por
perto. O único problema na verdade, era que eu assumia compromisso com os
meninos e de última hora tinha de desmarcar tudo isso. Teve até uma certa vez
em que eu estava sentada numa pizzaria, depois de várias vezes de marcar e
desmarcar, meu celular tocou e fui informada de um homicídio. Era uma
ocorrência grave na minha área de atuação, e simplesmente avisei que eu estava
acabando de entrar em serviço e que eles aproveitassem a pizza por eles e por
mim também.”
“Profissional
exemplar, ela dá o sangue no que faz e sente prazer em trabalhar na polícia
militar. São poucas as mulheres que podemos chamar de exemplo” diz o Coronel Lamarke, que além de
amigo é seu comandante. Já a amiga Maria Tereza nos informa que Maria de Fátima
é muito admirada pelos civis que a conhecem e por seus subordinados.
Ao final da entrevista Fátima fez
questão de agradecer. “Muito obrigada pela oportunidade de
relembrar um pouquinho da minha história”. Essa é a Capitão que faz a
diferença na Polícia Militar de Taubaté (SP).
Conversamos também com Fernanda Araújo
de 25 anos, Agente de Trânsito no Município de Rio Grande há 15 meses. Ela, por
sua vez, deixou claro que há sim preconceito e discriminação pelo fato de ser
mulher. A Agente que escolheu a profissão por gostar de trânsito, nos conta que
muitos são os desafios na profissão. Além da reação muitas vezes pouco amigável
dos condutores, há ainda a desvalorização e a falta de incentivo por parte da
gestão municipal.
Outro fator relevante em sua atividade
trata-se do preconceito velado ou não dos colegas e das pessoas em geral, fato
que é marcante no dia-a-dia da funcionária municipal. Fernanda diz notar que o
preconceito é muito maior dentro de seu círculo, seja por colegas ou
superiores, do que entre a população em geral. Muitas mulheres demonstram
admiração por vê-la exercendo uma função predominantemente masculina.
São muitas as pressões e comparações que
lhe são impostas em seu trabalho. Ela sente que por mais que exerça sua função
perfeitamente, para seus colegas machistas ela nunca será tão boa quanto um
homem (o que deixa claro que erroneamente o sexo em muitos locais é mais
importante do que a habilidade e a competência profissional).
Mas também há o lado bom de sua função.
Para ela, as ações mais gratificantes são: conseguir ajudar as pessoas, ao
desembaraçar uma ocorrência em que os dois lados afetados saiam satisfeitos e
também o trabalho de educação para o trânsito realizado com as crianças. Para finalizar, a Agente transparecendo sua
feminilidade disse que realmente o que mais gratifica é ser retribuído com “um muito obrigado sincero”.
Cada
vez mais as mulheres acabam por ocupar os mais diversos cargos no ambiente
profissional. Muitos deles outrora ocupados exclusivamente por homens,
quebrando paradigmas e expondo os preconceitos criados pela sociedade.
Já é comum a presença feminina nas
forças militares, nos poderes judiciário e legislativo e mais recentemente no
mais alto posto executivo, ocupado pela primeira Presidente do Brasil, Dilma
Roussef. Porém, não há como negar que certas profissões ainda são tidas como
masculinas, mas as mulheres que as exercem, com certeza, a consideram mais uma
conquista.
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