Pensamentos



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domingo, 20 de novembro de 2011

Síndrome do amor não correspondido

Alex Pires e Pedro Henrique Diemer


        Sabe aquela história de que mesmo tendo tudo, você pode sentir-se sozinho? “Um Beijo Roubado”( My Blueberry Nights) explora bem a solidão, em todas as suas circunstâncias. A estreia do cineasta Wong Kar Way em solo norte-americano não poderia ter sido melhor. Suas marcas registradas estão todas ali, a serviço de um filme encantador, delicado, que vai fundo na alma humana e na necessidade que todos nós temos de amar e sermos amados.
        Os protagonistas são Jeremy e Elizabeth. Os dois se conhecem por acaso. Ele é dono de um simpático café em nova York. Ela esta na redondeza atrás do namorado, que por sua vez, já tem outra mulher. O que ambos têm em comum? Suas vidas amorosas não estão em sua melhor fase. Jeremy e Elizabeth descobrem um no outro uma ótima companhia para conversar, expor as coisas que estão sentindo. Mas ela vai embora, e é na sua viagem, que o filme explora outras almas desesperadas por amor e afeto.
        Um Beijo roubado tem o mérito de encontrar em seu elenco as pessoas certas para colocar sentimentos tão profundos em pessoas tão palpáveis. Jude Law e Nora Jones são donos de uma química que poucos casais conseguem ter na telona.



 
Porém, é em David Strathairn e Rachel Weisz que o filme encontra suas melhores atuações. Ambos adotam um estilo naturalista para interpretarem Arnie e Sue Linnye. Delicados e sutis, esses atores compreendem as necessidades de seus personagens, assim como suas razões, e por isso colocam tudo de maneira crível, a solidão no seu lado mais verdadeiro. 

Apenas corações solitários

   Não é de hoje que o cinema gosta de explorar a solidão como fator impulsionador de histórias, independente do nível dessa solidão. Os solitários e os amores não correspondidos não são poucos:

PAUL - ÚLTIMO TANGO EM PARIS

 
O filme de Bernardo Bertolucci causou polêmica na época, e tanto Marlon Brando quanto sua colega de cena, Maria Schneider, disseram anos depois terem se sentido violados pelo filme. Polêmicas à parte, o protagonista Paul é exemplo de homem solitário e vulnerável. Não supera a morte da esposa, vai para Paris, e inicia um tórrido relacionamento com uma mulher, mas com o compromisso de não revelarem nem mesmo seus nomes. O típico caso do inseguro, que precisa de carinho, mas está com medo de mergulhar novamente em uma relação.

WALL E WALL E



Parece que sentir-se sozinho não é privilégio nem dos dias atuais, e nem só de humanos. O robozinho Wall E descobre que está em um mundo devastado, e completamente sozinho. E é quando encontra Eve, que sua existência parece fazer sentido novamente.



ANNIE WILKES – LOUCA OBSESSÃO


O fato de viver sempre sem ninguém e o desejo de ser amada é tão forte, que quando parece surgir uma oportunidade, Annie perde o controle. Interpretada por Kathy Bates, essa atuação é uma das mais assombrosas do cinema de terror, e merece destaque o momento em que, tresloucada, Annie quebra, com uma machado, os pés de seu ídolo, como forma de mantê-lo por mais tempo junto a ela.




O TRIO DE MELHOR É IMPOSSÍVEL


“Melhor é impossível” coloca em cena três personagens que, de algum modo, veem suas vidas se esvaindo, precisando apenas de um amigo. Melvin (Jack Nicholson) sofre de TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e adora comentários maldosos. Mas será que ele não tem amigos porque é hostil, ou se tornou hostil por não ter amigos?
Carol não encontra tempo para ter envolvimentos, já que está sempre preocupada com o filho que tem asma.
Simon sofre uma espécie de exclusão social, devido a sua opção sexual.
O destino os une e a partir de então, suas vidas tomam outros rumos. Melvin, que freqüenta o café em que Carol trabalha apenas por gostar dela, demonstra ser capaz de gestos adoráveis. Por outro lado, Carol e Simon encontram um no outro a amizade que tanto precisavam.


TOM – 500 DIAS COM ELA


Diálgos ágeis, tons fortes e um estilo semelhante ao de vídeo clipe. O desiludido Tom projeta todas suas expectativas amorosas na colega de trabalho. O relacionamento se desfaz e só resta lembrar. Curiosamente, seu trabalho é criar cartões de felicidades que se dá de presente nos natais, aniversários, dias dos namorados... Mas como escrever o que os outros sentem, enquanto o seu próprio coração está aos pedaços? 

O cinema já respondeu de muitas maneiras a esse conflito, que atormenta os seres humanos, provavelmente a milhares de anos. Às vezes, ficar sozinho pode ser uma opção. O medo também isola o indivíduo do restante das pessoas. Mas é exatamente em “Um Beijo roubado” que é possível achar uma das melhores explicações. Não existem culpas ou causas para estar sozinho, ou por não ser amado. São apenas, escolhas...

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