Alex Pires e Pedro Henrique Diemer
Sabe
aquela história de que mesmo tendo tudo, você pode sentir-se sozinho? “Um Beijo
Roubado”( My Blueberry Nights) explora bem a solidão, em todas as suas
circunstâncias. A estreia do cineasta Wong Kar Way em solo norte-americano não
poderia ter sido melhor. Suas marcas registradas estão todas ali, a serviço de
um filme encantador, delicado, que vai fundo na alma humana e na necessidade
que todos nós temos de amar e sermos amados.
Os
protagonistas são Jeremy e Elizabeth. Os dois se conhecem por acaso. Ele é dono
de um simpático café em nova York. Ela esta na redondeza atrás do namorado, que
por sua vez, já tem outra mulher. O que ambos têm em comum? Suas vidas amorosas
não estão em sua melhor fase. Jeremy e Elizabeth descobrem um no outro uma
ótima companhia para conversar, expor as coisas que estão sentindo. Mas ela vai
embora, e é na sua viagem, que o filme explora outras almas desesperadas por
amor e afeto.
Um
Beijo roubado tem o mérito de encontrar em seu elenco as pessoas certas para
colocar sentimentos tão profundos em pessoas tão palpáveis. Jude Law e Nora
Jones são donos de uma química que poucos casais conseguem ter na telona.
Porém, é em
David Strathairn e Rachel Weisz que o filme encontra suas melhores atuações. Ambos
adotam um estilo naturalista para interpretarem Arnie e Sue Linnye. Delicados e
sutis, esses atores compreendem as necessidades de seus personagens, assim como
suas razões, e por isso colocam tudo de maneira crível, a solidão no seu lado
mais verdadeiro.
Apenas corações solitários
Não é de hoje que o cinema gosta de explorar
a solidão como fator impulsionador de histórias, independente do nível dessa solidão.
Os solitários e os amores não correspondidos não são poucos:
PAUL - ÚLTIMO TANGO EM PARIS
O filme de Bernardo Bertolucci causou polêmica na
época, e tanto Marlon Brando quanto sua colega de cena, Maria Schneider, disseram
anos depois terem se sentido violados pelo filme. Polêmicas à parte, o
protagonista Paul é exemplo de homem solitário e vulnerável. Não supera a morte
da esposa, vai para Paris, e inicia um tórrido relacionamento com uma mulher, mas
com o compromisso de não revelarem nem mesmo seus nomes. O típico caso do
inseguro, que precisa de carinho, mas está com medo de mergulhar novamente em
uma relação.
WALL E WALL E
Parece que sentir-se sozinho não é privilégio nem
dos dias atuais, e nem só de humanos. O robozinho Wall E descobre que está em
um mundo devastado, e completamente sozinho. E é quando encontra Eve, que sua
existência parece fazer sentido novamente.
ANNIE WILKES – LOUCA OBSESSÃO
O fato de viver sempre sem ninguém e o desejo de
ser amada é tão forte, que quando parece surgir uma oportunidade, Annie perde o
controle. Interpretada por Kathy Bates, essa atuação é uma das mais assombrosas
do cinema de terror, e merece destaque o momento em que, tresloucada, Annie quebra,
com uma machado, os pés de seu ídolo, como forma de mantê-lo por mais tempo
junto a ela.
O TRIO DE MELHOR É IMPOSSÍVEL
“Melhor é impossível” coloca em cena três personagens
que, de algum modo, veem suas vidas se esvaindo, precisando apenas de um amigo.
Melvin (Jack Nicholson) sofre de TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e adora
comentários maldosos. Mas será que ele não tem amigos porque é hostil, ou se tornou
hostil por não ter amigos?
Carol não encontra tempo para ter envolvimentos, já
que está sempre preocupada com o filho que tem asma.
Simon sofre uma espécie de exclusão social, devido
a sua opção sexual.
O destino os une e a partir de então, suas vidas
tomam outros rumos. Melvin, que freqüenta o café em que Carol trabalha apenas
por gostar dela, demonstra ser capaz de gestos adoráveis. Por outro lado, Carol
e Simon encontram um no outro a amizade que tanto precisavam.
TOM – 500 DIAS COM ELA
Diálgos ágeis, tons fortes e um estilo semelhante
ao de vídeo clipe. O desiludido Tom projeta todas suas expectativas amorosas na
colega de trabalho. O relacionamento se desfaz e só resta lembrar.
Curiosamente, seu trabalho é criar cartões de felicidades que se dá de presente
nos natais, aniversários, dias dos namorados... Mas como escrever o que os
outros sentem, enquanto o seu próprio coração está aos pedaços?
O cinema já
respondeu de muitas maneiras a esse conflito, que atormenta os seres humanos,
provavelmente a milhares de anos. Às vezes, ficar sozinho pode ser uma opção. O
medo também isola o indivíduo do restante das pessoas. Mas é exatamente em “Um
Beijo roubado” que é possível achar uma das melhores explicações. Não existem culpas
ou causas para estar sozinho, ou por não ser amado. São apenas, escolhas...
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