Alex Pires e Pedro Henrrique Diemer
Sempre se falou do poder que a televisão
tem, não somente na vida particular das pessoas, mas também em setores sociais
e políticos. É a antiga questão ética, de onde começa e termina o limite que
uma emissora possui. Essa semana, o assunto voltou a ser pauta, após José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho ter dado algumas declarações polêmicas em uma
entrevista.
Lançando a sua biografia, Boni esteve
presente em muitos eventos e programas para falar sobre o livro, e
consequentemente, sobre sua vida. Comandando durante anos o setor de programação
da Rede Globo, sua vida está atrelada a momentos importantes da nossa televisão
- momentos bons e ruins.
Em conversa na Globo News, declarou que nas
eleições presidenciais de 1989, deu dicas para o então candidato Fernando
Collor de Mello (vídeo). As tais dicas incluíam tirar a gravata e aparecer mais no meio
do povo, como forma de ter o carisma e a popularidade que o adversário Luiz
Inácio Lula da Silva tinha com o povo.
A verdade é que a discussão é antiga.
Porém, essa é a primeira vez que alguém que trabalhou na emissora carioca fala
algo mais concreto sobre o caso. Mas, o que de fato isso significa? Ainda que
se possa acusar a postura tomada como errada, não há nada que comprove que foi
essa postura responsável por ter levado Collor ao Palácio do Planalto. A
discussão retornou a ser tema recorrente em conversas informais, e também
objeto de análise para especialistas.
O principal aspecto analisado desse fato é
a época em que ocorreu. Em dias como os que vivemos, a maioria da população tem
acesso a um grande número de informações. Em 1989, as coisas eram muito
diferentes.
O advento virtual que a internet
proporciona ainda não fazia parte da vida das pessoas. A concorrência entre as
redes de TV eram menores, e, sim, a Globo era detentora de um monopólio da
informação bem maior do que acusam hoje.
Isso acaba batendo em questões éticas e
conceitos de imparcialidade no jornalismo. É também valido lembrar que a
democracia como um todo era algo novo para todos, até mesmo para a televisão, e
talvez não se soubesse como lidar com aquela novidade.
Para o jornalista Emerson Cabral, de uma
afiliada da TV Globo, a mídia vem tentando se aperfeiçoar e melhorar como
instrumento político: “A Globo tem tomado um cuidado extremo na formulação das
perguntas feitas aos candidatos, para que não pareça que algum candidato está
sendo beneficiado ou que outro esteja sendo massacrado. Tem procurado fazer o
mesmo nível de perguntas a todos os candidatos".
Cabral também ressaltou que o papel da
imprensa é informar, não sendo correto omitir nenhum fato. Essa é uma das
acusações feitas a uma edição do Jornal Nacional, que ao fazer um resumo de um
debate entre Collor e Lula, teria privilegiado os melhores momentos de Collor e
os piores de Lula (vídeo). Mas não é relativo? (o que é exatamente um bom e um mau
momento? Como se classifica ele?)
Esse assunto ainda vai render muito. E é
provável que não exista um consenso ao final. A lição que fica é que fatores
externos são pontos fortes na decisão de que informação passar, e de como
passar. Talvez pensar com a própria cabeça seja o mais adequado.
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