Pensamentos



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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Os animais nas mãos do homem


Ezekiel Dall’Bello

        Há muito tempo já temos registros de casos de violência animal. O ser humano se surpreende cada vez mais com atitudes banais e incompreensíveis de covardia contra os bichos. No dia primeiro deste mês, tivemos um brutal assassinato de dois cachorros no bairro Cohab Fragata, onde foram mortos por golpes de lança. A sociedade pelotense está pasma e revoltada.
        Esse não foi o primeiro e nem será o último caso de violência animal em Pelotas. Entretanto, hoje em dia temos diversos movimentos e projetos contra isso. A Associação S.O.S Animais de Pelotas é um exemplo.
        O Acadêmicos da Notícia entrevistou a veterinária Lorena Coll, fundadora da S.O.S., a fim de saber sua visão sobre o assunto. Lorena tem 46 anos, 23 de profissão, e é contra qualquer tipo de violência contra os animais.

1.Acadêmicos da Notícia - Na sua opinião, quando a sociedade começou a achar relevante essa questão da violência contra os animais?
Lorena Coll - Acredito que há 10 anos atrás começou a grande mudança, a grande briga para os animais serem respeitados, junto com o respeito à natureza. Todo mundo sabe que tem aumentado cada vez mais os grupos que defendem esse respeito. Há mais ou menos 10 anos começou a chamar muito a atenção esse problema. Sempre se teve esses casos de violência, de maus tratos, de abandono de animais, só que a nova geração já vem com uma mentalidade um pouco mais aberta, prestando mais atenção no meio que cerca ela. Acredito que isso foi fundamental para mudar este comportamento, que não se admite mais em pleno século XXI.

2.AN - As pessoas ficam chocadas, mas muitas vezes não mudam seu comportamento. O que nós realmente podemos fazer pelos animais?
Lorena - O principal é a gente aprender que o animal não é um objeto. A gente tem essa mentalidade porque antigamente os animais serviam. Até na nossa constituição eles são tratados como um objeto, eles são propriedade de alguém. Então acho que a partir dessa mudança, deste conhecimento que vai adquirindo de ser respeitado, de conviver com animais, de ver como eles retribuem tudo que a gente dá para eles de carinho. A partir daí que começa essa mudança, e é para isso que a gente luta, para que todos sejam respeitados como um todo que habita este planeta, não só o homem. A gente vê que o homem é muito egoísta, acha que tudo é para ele, foi feito pra ele, ele é o ser supremo do universo – vamos dizer assim – e tudo tem que servir ele. A gente já acha que não. A gente acha que estamos convivendo e dividindo o planeta com eles, com os animais, com a natureza. E aí que eu acho que é bonito: a gente respeitar eles.

3. AN - Quando e como surgiu o seu interesse pelo movimento S.O.S. Animais aqui em Pelotas?
Lorena - O S.O.S. Animais começou em uma tarde, quando eu estava trabalhando e fui chamada para atender uma cachorra que foi atropelada em uma rua, no centro da cidade. Foi um professor do conservatório de música na época que ficou revoltado, assistindo aquilo ali. Ele a recolheu e alguém me indicou como veterinária e eu fui atender. Comecei a explicar que Pelotas não tinha para onde encaminhar um bichinho desses, que eu podia fazer o atendimento, mas e o depois? Onde tu colocas esses animais? Na rua, de volta? E aí a gente começou a conversar e surgiu a S.O.S. Animais. Ele até que encabeçou o projeto, chamando pessoas e começou a vir muita gente interessada no assunto. A partir dali a gente fundou a associação, tendo estatuto, tudo de ponta e funcional. Mas isso mudou um pouquinho. Na realidade, eu sou a única que está desde o início, todos os outros foram saindo porque eram muitas visões diferentes. Aí começou a se dividir o grupo, teve uma outra ONG que saiu daqui. Aí a gente seguiu daí e começou a trabalhar mais com educação e as castrações, que é a única maneira de diminuir esse número absurdo.

4.AN -Qual o maior “crime” que o ser humano vem cometendo contra os animais nesse sentido?
Lorena - É complicado o que eu vou dizer, mas a gente chega nas casas e vê os animais amarrados, sem um prato de água. Isso daí é um maltrato que vai matando o bichinho gradativamente, e para mim não tem coisa pior. Claro que uma violência como essas que aconteceu no Fragata te choca, mas tem muita gente que maltrata assim: sem comida, sem água, amarrado e morrendo. É o que eu já falei de tratar o bichinho como objeto. Eles acham que o animal não sente fome, não sente sede... precisamos justamente fazer essa reeducação para conscientizar as pessoas que é outro ser vivo, que também precisa dos mesmos cuidados e atenção que nós.

5.AN -Sobre o assassinato dos dois cachorros no bairro Fragata, o que você sabe?
Lorena - A gente acompanhou desde o início porque foi procurada aqui na clínica a moça que assistiu, que foi chamada no local, a Aline. Ela recorreu a nós depois de deixar um dos cães no Dr. Álvaro. Ela veio aqui para saber qual era o procedimento, o que ela deveria fazer. A gente orientou que ela fosse na Polícia Civil e ela estava muito revoltada porque queriam prender a pessoa que fez isso. Na realidade, nossa lei não permite isso. Mas na revolta do momento as pessoas acabam querendo que a polícia faça alguma coisa que elas não podem fazer. Então foi registrada a ocorrência. E como o dono dos cães não quis processar quem os assassinou, foi pedido via promotoria, que é ela que está movendo a ação contra este cidadão. A gente quer que ele seja julgado. Acho que o mínimo é o julgamento, que ele fique nem que seja um dia ou um mês atrás das grades.

6.AN -Uma pessoa que pratica tais atos de covardia não deve estar em sã consciência. Uma barbárie dessas não se explica com meias palavras. O que você acha que deve passar na cabeça de alguém para fazer uma coisa deste tipo?
Lorena - Eu não consigo entender a cabeça de uma pessoa assim. E eu já estou em um ponto de minha vida em que eu digo “o ser humano está meio dividido”, porque eu não me considero da mesma espécie que este cidadão, não consigo. Eu sou uma pessoa incapaz de pisar em uma formiga por gosto. Ele tem que ser uma pessoa muito doente, que tem algum problema mental. Pior de tudo é que dizem que sempre foi uma pessoa pacata, mas pelo menos que a gente saiba. Às vezes a pessoa esconde essa índole. Uma pessoa que tinha uma lança em casa, para quê ela tinha aquela lança? Qual a intenção dela em ter uma arma daquelas em casa? Não pode ser uma pessoa normal...

7.AN -Se pudesses deixar uma mensagem a todos pelotenses, o que diria?
Lorena - Eu acho que tudo isso que está acontecendo é culpa de cada cidadão que acha que o problema são os animais soltos na rua, quando na realidade a maioria dos problemas são os animais que nascem em casas de pessoas, que têm condições, e depois os abandonam na rua. Não tem como se esquivar de que todos nós somos responsáveis do que está acontecendo, que o nosso poder público não toma atitude nenhuma, que Pelotas está vivendo uma fase muito difícil na saúde pública e não vai se resolver isso com violência nem terminando com os animais. A gente vai resolver com bom senso e trabalho. Já está mais do que na hora da gente tomar alguma atitude e pressionar o poder público para isso.

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