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terça-feira, 4 de outubro de 2011

A redescoberta da arte


Sexo, drogas, rock’n roll e crítica social marcam uma era do cinema americano

Alex Pires e Pedro Henrique Diemer

        A década de 1970 começou de forma atribulada. Havia uma crise do petróleo, que de certa forma acabava, direta ou indiretamente, afetando a todos. O declínio econômico comprometia a várias áreas, inclusive o cinema.
        As salas de projeção já não lotavam mais, e percebeu-se que era necessário um novo rumo. Talvez por esse momento, a nova geração que surgia na sétima arte optou por obras pintadas em tintas mais realistas, procurando expor os lados mais obscuros da sociedade.
        Essa tendência iniciou no final dos anos 60, quando os assaltantes Bonny e Clide viram personagens de um filme e “Perdidos na Noite” mostra um cowboy que vai para a cidade grande e acaba tendo que se prostituir.    

   
        
    Mas é com “MASH”, do criativo Robert Altman, que, de fato, um novo rumo é tomado. O filme causou polêmica com as forças armadas, que se sentiram ofendidas, já que ele tratava a guerra da Coréia de forma irônica e debochada ao expor um grupo de médicos irreverentes durante o conflito na Ásia. Esse era o primeiro sinal claro de que o que viria era a utilização da arte como uma crítica ao que estava sendo vivenciado.





        Stanley Kubrick foi o responsável por criticar a violência na sociedade. “Laranja Mecânica” traz como seu protagonista Alex, jovem que junto com os amigos comete diversas atrocidades, incluindo um estupro, como forma de divertimento. 

      Após ser preso, é submetido a um tratamento do qual sai curado da sua sede por violência. A crítica consiste no fato de que, mesmo com Alex curado, o rastro de horror deixado afetou outras pessoas, e isso acabou gerando outros atos tão terríveis quanto os realizados pelo jovem.



        A mensagem é clara: não basta apenas curar um indivíduo, quando a sociedade toda está doente. É o lado marginal da sociedade americana, que na década de 70 é explorado como nunca.

        Martin Scorcese usa de uma crueldade rara, e faz do motorista de “Taxi Driver” uma figura tão assustadora quanto fascinante.



        Nos subúrbios de Nova York, nas inúmeras noites de insônia que o levam a trabalhar como taxista, ele presencia o que poderia existir de mais sórdido, não apenas na maior cidade do mundo, como na natureza humana, drogas, armas e meninas que acabaram de entrar na adolescência, mas já vendem o próprio corpo. O filme consagrou, além do diretor, o ator Robert de Niro.








        Sidney Lummet, nesse mesmo ano, narrou em tempo real um assalto a banco em “Um dia de Cão”. O motivo: o idealizador do plano precisava do dinheiro para a cirurgia de mudança de sexo do seu parceiro (os homossexuais também eram marginalizados pela sociedade).








        Porém, é importante ressaltar a exploração da natureza humana em críticas aos poderosos. A política e as grandes corporações não foram poupadas. Se em “Taxi Driver”, o lado obscuro eram as ruas sujas e escondidas de Nova York, Em “O Poderosos Chefão” são os mafiosos, com bons carros e ternos alinhados que mandam e desmandam e progridem na vida através de negócios ilícitos.
        Watargate não escapa das câmeras e o livro dos jornalistas que investigaram o caso é transformado em obra cinematográfica. Esse caso é especial, pois, mais que a importância dentro da indústria de filmes, é consenso entre os jornalistas que “Todos os homens do presidente” é uma aula para os que desejam enveredar por essa área, porque continua muito atual.

        Constantemente recebo cartas de professores que mostram o filme a seus alunos e são eles os que podem traçar paralelismos entre o passado e o presente”, declarou Robert Redford em entrevista para o DVD do filme (o ator interpretou um dos jornalistas).
 
        Ainda vivia a crítica ácida nos meios de comunicação, quando “Rede de Intrigas” mostra os bastidores de uma emissora de televisão, onde a audiência é buscada a qualquer preço.


        O fenômeno que se viu e vivenciou na década de 1970, infelizmente não voltou a se repetir. Talvez o principal motivo dessa mudança foi que aquela geração vinha com uma sede de verdade, um lado provocativo, uma vontade de tirar a sujeira debaixo do tapete e jogá-la no ventilador. Procuravam ser mais independentes, ainda que George Lucas e Steven Spielberg, mesmo sendo os típicos contratados de estúdios, tenham dado sua contribuição com “Tubarão” e “Star Wars”. Deu certo.
        A crise continuava, mas filmes como “O Exorcista” lotaram os cinemas. Aparentemente, aqueles idealistas podem ser apontados como salvadores de uma indústria. E o que fica, antes de qualquer coisa, é o prazer que se voltou a ter, com força total, no cinema e a crença nas próprias convicções que aqueles expoentes propunham.
 

Um comentário:

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