Pensamentos



"A sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor." ALBERTO DINES


sábado, 9 de julho de 2011

Dias de luta, anos de chumbo

Música x Ditadura

Jonathan Silva, Luis Alexandre Alves e Paola Fernandes


        1964: um ano que o Brasil jamais esquecerá. Os militares depuseram o então presidente João Goulart e tomaram o poder, dando início ao que seria um dos momentos mais conturbados da história nacional. O povo não tem mais direito à escolha, não pode discordar de nada e a democracia se perdeu pelas repressões da ditadura. Exílios, torturas, perseguições e mortes marcaram este período, provocando uma verdadeira mancha de sangue  na  história do Brasil.

        Um grito contido:

“Fica expressamente proibida a publicação de: notícias, comentários, entrevistas ou critérios de qualquer natureza(...)”  

        Assim ficava determinada a censura a qualquer tipo de manifestação contra o Regime Militar no Brasil com o quinto ato institucional de 13 de dezembro de 1968, baixado pelo governo militar. Este ano foi um marco na história mundial. Jovens de todo mundo seguiram o exemplo da juventude francesa e se rebelaram contra o sistema. No Brasil, nesse período, a ditadura chegaria ao seu ápice com os chamados Anos de Chumbo, no governo Médici (1969-1974). A repressão foi a marca do governo do presidente gaúcho.



         Era 21 de outubro de 1967. No Teatro Paramount, centro de São Paulo, acontecia a final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Diante de uma plateia fervorosa - disposta a aplaudir ou vaiar com igual intensidade -, alguns dos artistas hoje fundamentais para a MPB se revezavam no palco para competir entre si. As canções se tornariam emblemáticas, mas até aquele momento permaneciam inéditas. Entre os 12 finalistas, Chico Buarque e o MPB vinham com “Roda Viva”; Caetano Veloso, com “Alegria, Alegria”; Gilberto Gil e os Mutantes, com “Domingo no Parque”; Edu Lobo, com “Ponteio”; Roberto Carlos, com o samba “Maria, Carnaval e Cinzas”; e Sérgio Ricardo, com “Beto Bom de Bola”. A briga tinha tudo para ser boa. E foi. Entrou para a história dos festivais, da música popular e da cultura do País.


Vem, vamos embora que esperar não é saber
(Pra não dizer que não falei das flores)
       
        Mesmo com as retalhações a qualquer tipo de oposição ao regime, foi neste período que a resistência cresceu. Do movimento estudantil aos sindicatos, a mobilização foi grande. Em um dos poucos momentos da história brasileira, partes de toda sociedade lutaram lado a lado pelo mesmo motivo: a redemocratização do país.
        Na música não poderia ter sido diferente. A produção artística teve um importante papel nessa resistência. Nem as tantas mortes e torturas puderam abafar a voz de quem cantava os sonhos e a vontade do povo brasileiro. Eles também se rebelaram contra esse regime e entre os mais conhecidos podemos destacar nomes como:



Minha gente hoje anda falando de lado e olhando para o chão
(Apesar de você)

        Em tempos de proibição, como se expressar contra aquilo que você não pode se opor? Essa era a grande questão. Muitas músicas foram censurdas e algumas nem se quer foram gravadas. Outras tiveram que ter sua letra alterada. Contudo, foi no duplo sentido que os artistas acharam uma forma de protesto.
        Na época era proibido fazer qualquer crítica ao regime, mas através de músicas aparentemente sem contexto político que falavam de amor, de religião e de outros tantos temas, essas composições criticavam a ditadura militar de forma implícita. Em tempos de se falar baixo e pelos cantos essa foi a grande sacada dos compositores. Temos grandes exemplos como a música Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil. Nesta composição, usa-se o termo “cale-se no contexto religioso como “cálice”, mas no sentido de calar, não deixar falar: Pai afasta de mim esse cálice(...)
        Outra canção muito lembrada é Debaixo dos caracois dos seus cabelos, do rei Roberto Carlos. Quem a escuta logo pensa no tom apaixonado do rei, mas muito se engana quem pensa que ela foi feita para uma mulher. A música foi composta para o amigo de cabelos cacheados, Caetano Veloso, que se encontrava exilado na Inglaterra. Ela fala de saudade, e esse era o maior sentimento do amigo que teve de sair do Brasil.



Célebres que viraram história

        Algumas músicas viraram verdadeiros cantos e símbolos de luta sendo lembradas e cantadas até hoje. Entre as diversas brilhantes composições, Para nãodizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, foi praticamente um chamado ao povo em 1968, que marcou o período como uma das canções mais lembradas.
        Chico Buarque também foi um compositor de mãos cheias: a própria Cálice (com Gilberto Gil), O que será (A flor da pele) e Roda-viva entre outras foram algumas de suas artes. Temos ainda como destaque Apesar de você, que cantava aos quatro cantos Amanhã vai ser outra dia(...), e era uma composição direta àquele que ficou conhecido como o presidente mais linha dura do regime, o bageense Médici. Caetano Veloso não foi apenas o centro da Debaixo dos caracois dos seus cabelos, do rei, mas também emplacou sucessos, como a memorável Alegria Alegria.

Passeata dos cem mil

Sinto vir vindo no vento cheiro da nova estação
(Como nossos pais)

        O desfecho dessa grande luta que mobilizou estudantes, jornalistas, professores, políticos, donas de casa, trabalhadores, artistas e diversas partes da sociedade em incansáveis mobilizações, passeatas e atos se deu 20 anos após a tomada do poder: em 1984. A campanha das Diretas Já! devolveu os direitos ao povo e acabou com a censura. Derrubou a ditadura e permitiu que a populução brasileira se manifestasse diante de suas escolhas. O Brasil era um país redemocratizado.



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