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domingo, 10 de julho de 2011

Doçuras Pelotenses

Ândria Völz, Natália Elsenbach e Vanessa Lilja

Para os gaúchos, quando se fala em Pelotas, a primeira lembrança é das delícias de doces que são produzidos na cidade. Até quem não é do estado conhece a fama de Pelotas. Os quindins, os pasteis de Santa Clara, os bem-casados e outros muitos chegam a dar água na boca de quem já os provou. Mas o que poucos sabem é o porquê de Pelotas ser a “cidade do doce”, e que ainda conta com uma cooperativa de doceiras, que objetivam preservar a verdadeira essência dessa cultura.

História do Doce em Pelotas


É difícil definir exatamente quando os doces surgiram em Pelotas. Sabe−se que sua origem teve influência portuguesa, aproximadamente na década de 1860. Sua produção caseira, feita pelas mulheres e suas mucamas. O açúcar utilizado era proveniente da região Nordeste do Brasil, em troca do charque.
 
       Os imigrantes italianos e alemães também fizeram sua parte nessa cultura. Eles trouxeram e criaram suas fórmulas de doces com frutas, como banana, pêssego, morango, abóbora, e outros, que originam compotas, schimias ou geléias, doces cristalizados, e doces em pasta.
A importância para o desenvolvimento da cidade é tão acentuada que desde 1986 realiza-se a FENADOCE – Feira Nacional do Doce – contando, hoje, com a visitação de mais de 300 mil pessoas a cada ano do evento.

"Pelotas pode ser considerada, sem nenhum exagero, a terra do doce, do mesmo modo que foi o berço das charqueadas, dos salões faustosos, das grandes damas, dos barões beneméritos, dos poetas românticos" (MAGALHÃES, Mário Osório. Doces de Pelotas: Tradição e História. Pelotas, 2001).
 
Cooperativa dos doceiros de Pelotas

        Ao entrar no quiosque da Cooperativa dos doceiros de Pelotas contemplamos a saborosa visão dos mais de 33 doces por eles produzidos e comercializados. Encontra-se desde os doces finos de Pelotas - receitas oriundas da colonização portuguesa - como a Fatia de Braga, Pastel Santa Clara, Camafeus, até os mais populares como bombom de morango, tortinha de limão, quindim de nozes, entre outras delícias.
       
     
 A cooperativa foi fundada em 1982 por um grupo de doceiros tradicionais da cidade, com o intuito de formar uma organização que primasse pela preservação dos costumes e qualidade dos doces, dando continuidade às receitas recebidas como herança familiar portuguesa. Também ajudaram a fundar a Fenadoce, que apesar de hoje ser uma feira de repercussão nacional, em 1986, foi realizada em bancas emprestadas pela feira do livro.
    Em conversa com Ligia Maria Ribeiro (foto), presidente da Cooperativa, perguntamos a ela qual o doce mais procurado, ao que respondeu ser os bombons de morango, quindins e ninhos. Contudo, ela lamenta a perda das origens da cultura doceira em Pelotas.
        A tradição teve início em meados do século XIX, onde as doceiras utilizavam tachos de cobre em seus fogões a lenha. Valiam-se de ingredientes como o leite, o açúcar, a farinha, e os ovos e frutas que vinham das colônias formadas na cidade de Pelotas pelos imigrantes alemães e italianos.
Hoje elas utilizam panelas a vapor e fogões industriais, e ainda trocam seus ingredientes caseiros por leite condensado e chocolate em barra derretido. Apesar de estar entre os mais requisitados, os bombons de morango, damasco ou cereja não foram os que deram à Pelotas o reconhecimento como capital do doce.
       Ligia lamenta o fato das doceiras - e a própria Fenadoce - não atentarem para esse aspecto, da pouca valorização aos doces tradicionais pelotenses. Antigamente, a diferença do sabor do doce poderia variar de acordo com o tacho utilizado ou o tempo de cozimento. Hoje em dia, o sabor difere de acordo com a marca do leite condensado, do chocolate, e talvez ainda dependa do uso de aromatizantes. Por isso as receitas de antigamente já não se reproduzem nos doces de agora.
A Cooperativa tem cerca de 30 sócios, sendo um dos mais conhecidos núcleos de produção de doce. É onde se encontram as mais antigas doceiras, que ainda utilizam as receitas originais, legado das avós e mães que transmitem de geração à geração a tradição culinária de suas origens.
Localiza-se no Calçadão da Andrade Neves e em 2012 irá comemorar seu 30º aniversário. No mesmo ano,, Pelotas completará 200 anos, e a Coodopel espera que seja possível a aquisição de um espaço no Mercado Público Pelotense, quando símbolo da cidade emergir da reforma para a festa dos 200 anos.

Os mais tradicionais doces de Pelotas são:

Camafeus - doces de nozes moídas cobertos com glacê, decorados com meia noz.
Fatia de Braga - doce de massa de amêndoas oriundo da cidade de Braga.
Ninhos (foto) - doce de fios-de-ovos recheado com doce de ovos.
Pastel de Santa Clara - massa fina e delicada, assada em forno com recheio de ovos moles.
Ovos-moles - doce à base de gemas e açúcar (tradicionais ovos moles de Aveiro).
Trouxa de amêndoa - mesma Lampreia em tamanho pequeno.
Bem-casado - casal de bolinhos, unidos com ovos moles de Aveiro e glaceados.
Carioquinha - doce de coco ralado em sua própria água, cozido em ovos moles e glaceado.

LEI Nº 11.919, DE 06 DE JUNHO DE 2003.
Declara integrante do patrimônio cultural do Estado os doces artesanais de Pelotas.

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