Pensamentos



"A sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor." ALBERTO DINES


sábado, 9 de julho de 2011

Entrevista com César Soares

Ezekiel Dall'Bello

    Muito se discute no jornalismo atual a questão da imparcialidade. Afinal, ela existe ou não? Cada emissora segue seus conceitos, cada jornal tem a sua linha editorial. Mas podemos chegar a um concenso frente ao posicionamento ou não do jornalista?
      O Acadêmicos da Notícia entrevistou o jornalista César Soares para saber o que o profissional tem a dizer sobre o assunto. César atualmente é repórter do site Terra, mas esteve por alguns anos trabalhando na Rede Record, atuando pela TV Nativa de Pelotas.
       Acompanhe a entrevista:

Acadêmicos da Notícia - Você acredita em uma interferência nos textos de notícias devido à opinião do jornal ou jornalista?

César Soares - Não só acredito, como existe, não digo uma interferência, mas uma aproximação ou identificação com a linha editorial (LE) estabelecida por determinado veículo de comunicação. O que não pode ocorrer é a omissão dos fatos ou a distorção dos mesmos.

AN - (Se sim) Para você, deve haver essa interferência?

César - Haver ou não haver essa interferência é um tanto relativo: entendo como óbvio que em temos de notícias factuais, a notícia tem que ser “limpa”. Lembrando que a forma de publicação poderá ser a mais variada, obedecendo a (LE) de cada empresa.
        Quanto a questões que envolvam temas políticos, religiosos ou de qualquer natureza em que o posicionamento é a atitude mais coerente, acredito que deve ser feito, sim. Entretanto, reforço que não pode haver o prejuízo da informação ou omissão dos fatos. Como exemplo, cito a recente batalha Globo X Record, em que a TV Record assumiu uma posição diante de uma determinada igreja e combateu uma acusação mostrando as causas que defende, deixando o julgamento para o público. Outro caso recente é o do Jornal O Estado de São Paulo que publicou editorial (veja bem, editorial. Não quer dizer que todos tenham de seguir ou assumir tal decisão),favorável a um dos candidatos à presidência.
        Caso essa definição não ocorra caímos no “todos sabem a tendência do jornal tal...”. Na minha ótica, é melhor ter posição definida do que abrir margem para comentários, críticas e até comprometer outros trabalhos. 

AN - Você que trabalhou por anos na TV Nativa, poderia nos dizer como ela vê essa tomada ou não de posição em diferentes editorias?

César - Na ocasião em que fui produtor, editor e repórter da TV Nativa/Record, a tomada de decisão ficava sempre em torno da relevância do fato. Quando o assunto era mais delicado, como em situação de envolver anunciantes, por exemplo, o assunto era discutido em reunião de pauta, e para minha satisfação, os poucos casos que acompanhei, foi decidido pela veiculação da informação.

AN - Há situações em que não há como ficar isento?

César - Aprendi com a vida e apenas confirmei discutindo e debatendo na universidade que, por ser um ato espontâneo do homem, a comunicação é extremamente antagônica à isenção. Relatar, narrar, descrever um fato, reproduzindo todos os detalhes, por mais fiel que se seja, não pressupõe isenção. Isso só pude perceber na prática.


AN - É possível ficar isento sem estar de fato? Como fazer isso?

César - Um tom de voz, uma expressão facial, uma palavra, uma vírgula, uma cena, denuncia, ainda que nas entrelinhas, o nosso “olhar” sobre um acontecimento. Somos seres humanos dotados de sentimentos e isso é praticamente impossível de se omitir. Uma notícia é a descrição de um fato, a reprodução da realidade, nunca será o real. O que tento fazer é me aproximar ao máximo desse real.

AN - Como você enxerga a questão da neutralidade em outras emissoras, como o Grupo RBS?

César - Neutralidade em que aspecto? Volto a dizer que neutralidade, isenção são relativos. Depende do momento, da situação, do tema, e principalmente da linha editorial da empresa. Posso apenas emitir um comentário enquanto profissional até porque ainda não trabalhei em nenhum veículo do Grupo. Percebo que eles desenvolvem um trabalho extremamente profissional, valorizando, como qualquer outro grupo, a linhas e posicionamentos que entendem ser os mais próximos de seus princípios, enquanto empresa de comunicação.  

AN - Que tipos de assuntos exigem mais cuidados na abordagem?

César - Pra mim todos os assuntos exigem muito cuidado em sua abordagem. Nunca esquecer de que uma boa reportagem, uma boa matéria, exige, por excelência, uma boa fonte. Existe um fato, ele pode gerar uma notícia ou não, tudo vai depender da percepção do jornalista, e das informações de sua fonte. Não existe jornalista sem fonte. Entenda-se por fonte desde o pipoqueiro, até o político ou policial mais graduado.
        Editorias mais delicadas são sempre as de polícia e denúncias. Uma vírgula mal colocada pode gerar processos, reações, ou causar grandes transtornos. Casos que envolvam crianças e doenças também precisam ser bem estudados.

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