Ezekiel Dall'Bello
Muito se discute no jornalismo atual a questão da imparcialidade. Afinal, ela existe ou não? Cada emissora segue seus conceitos, cada jornal tem a sua linha editorial. Mas podemos chegar a um concenso frente ao posicionamento ou não do jornalista?
O Acadêmicos da Notícia entrevistou o jornalista César Soares para saber o que o profissional tem a dizer sobre o assunto. César atualmente é repórter do site Terra, mas esteve por alguns anos trabalhando na Rede Record, atuando pela TV Nativa de Pelotas.
Acompanhe a entrevista:
Acadêmicos da Notícia - Você acredita em uma interferência nos textos de
notícias devido à opinião do jornal ou jornalista?
César Soares -
Não só acredito, como existe, não digo uma interferência, mas uma
aproximação ou identificação com a linha editorial (LE) estabelecida por
determinado veículo de comunicação. O que não pode ocorrer é a omissão dos
fatos ou a distorção dos mesmos.
AN - (Se sim) Para você, deve haver essa interferência?
César - Haver ou
não haver essa interferência é um tanto relativo: entendo como óbvio que em
temos de notícias factuais, a notícia tem que ser “limpa”. Lembrando que a
forma de publicação poderá ser a mais variada, obedecendo a (LE) de cada
empresa.
Quanto a questões que envolvam temas
políticos, religiosos ou de qualquer natureza em que o posicionamento é a
atitude mais coerente, acredito que deve ser feito, sim. Entretanto, reforço
que não pode haver o prejuízo da informação ou omissão dos fatos. Como exemplo,
cito a recente batalha Globo X Record, em que a TV Record assumiu uma posição
diante de uma determinada igreja e combateu uma acusação mostrando as causas
que defende, deixando o julgamento para o público. Outro caso recente é o do
Jornal O Estado de São Paulo que publicou editorial (veja bem, editorial. Não
quer dizer que todos tenham de seguir ou assumir tal decisão),favorável a um
dos candidatos à presidência.
Caso essa definição não ocorra caímos no
“todos sabem a tendência do jornal tal...”. Na minha ótica, é melhor ter
posição definida do que abrir margem para comentários, críticas e até
comprometer outros trabalhos.
AN - Você que trabalhou por anos na TV Nativa, poderia nos dizer como ela vê
essa tomada ou não de posição em diferentes editorias?
César - Na
ocasião em que fui produtor, editor e repórter da TV Nativa/Record, a tomada de
decisão ficava sempre em torno da relevância do fato. Quando o assunto era mais
delicado, como em situação de envolver anunciantes, por exemplo, o assunto era
discutido em reunião de pauta, e para minha satisfação, os poucos casos que
acompanhei, foi decidido pela veiculação da informação.
AN - Há situações em que não há como ficar isento?
César - Aprendi
com a vida e apenas confirmei discutindo e debatendo na universidade que, por
ser um ato espontâneo do homem, a comunicação é extremamente antagônica à
isenção. Relatar, narrar, descrever um fato, reproduzindo todos os detalhes,
por mais fiel que se seja, não pressupõe isenção. Isso só pude perceber na
prática.
AN - É possível ficar isento sem estar de fato? Como fazer isso?
César - Um tom de
voz, uma expressão facial, uma palavra, uma vírgula, uma cena, denuncia, ainda
que nas entrelinhas, o nosso “olhar” sobre um acontecimento. Somos seres
humanos dotados de sentimentos e isso é praticamente impossível de se omitir.
Uma notícia é a descrição de um fato, a reprodução da realidade, nunca será o
real. O que tento fazer é me aproximar ao máximo desse real.
AN - Como você enxerga a questão da neutralidade em outras emissoras, como o
Grupo RBS?
César - Neutralidade
em que aspecto? Volto a dizer que neutralidade, isenção são relativos. Depende
do momento, da situação, do tema, e principalmente da linha editorial da
empresa. Posso apenas emitir um comentário enquanto profissional até porque
ainda não trabalhei em nenhum veículo do Grupo. Percebo que eles desenvolvem um
trabalho extremamente profissional, valorizando, como qualquer outro grupo, a
linhas e posicionamentos que entendem ser os mais próximos de seus princípios,
enquanto empresa de comunicação.
AN - Que tipos de assuntos exigem mais cuidados na abordagem?
César - Pra mim
todos os assuntos exigem muito cuidado em sua abordagem. Nunca esquecer de que
uma boa reportagem, uma boa matéria, exige, por excelência, uma boa fonte.
Existe um fato, ele pode gerar uma notícia ou não, tudo vai depender da
percepção do jornalista, e das informações de sua fonte. Não existe jornalista
sem fonte. Entenda-se por fonte desde o pipoqueiro, até o político ou policial
mais graduado.
Editorias mais delicadas são sempre as
de polícia e denúncias. Uma vírgula mal colocada pode gerar processos, reações,
ou causar grandes transtornos. Casos que envolvam crianças e doenças também
precisam ser bem estudados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário