Do prédio ao acervo, um convite à leitura
Leandro Domingues
Ninguém
que goste de ler pode dispensar um olhar atento a uma biblioteca. Nenhum
rio-grandino poderia deixar de entrar com o corpo e a alma na Biblioteca
Rio-Grandense, um patrimônio histórico, arquitetônico, literário e de várias
outras formas de cultura.
Talvez
muitos tenham passado por ali sem atentar para suas linhas retas e acervo
único. São mais de 450 mil obras, algumas raríssimas, que atraem pesquisadores
de várias partes do mundo, trabalhando sobre o mais diversificados temas.
Fundada em 1846 por 21 adeptos da
cultura liderados por João Barbosa Coelho, a Biblioteca Rio-Grandense é a mais
antiga instituição cultural do Rio Grande do Sul. Nestes quase dois séculos de
história, ela já recebeu desde uma Família Imperial (D. Pedro II e sua filha
Isabel) até um futuro presidente (Fernando Henrique Cardoso, ao tempo de
professor/pesquisador).
Acervo
Entre os mais de 400 mil volumes, a
Biblioteca tem raridades mundiais, como o “Geografia” de Claudius Ptolomaeus,
editado em 1562, com 286 páginas e 64 mapas. O segundo livro mais antigo é “Rerum
a Societate Iesv in Oriente”, de Joan Petrus Maffeius, de 1574. Mas entrando
pelas várias salas, cada uma delas dedicada a uma personalidade, como Tamandaré
(assuntos náuticos e navais), Abeillard Barreto, Silva Paes (com os mesmos
títulos que o brigadeiro tinha na livraria particular), Martins Bastos ou
Duprat da Silva, é impossível não se emocionar ao ver centenas de volumes nas
prateleiras. Tem livros para qualquer gosto, tempo, época, necessidade.
De valor inestimável são os jornais,
alguns da época da fundação da Biblioteca, como “O Noticiador” e “O
Observador”. O “Jornal do Commercio”, do Rio de Janeiro, tem aqui sua única
coleção completa, pois a da empresa proprietária foi perdida num incêndio.
Atualmente, conta com edições completas dos jornais Agora, Diário Popular e
Jornal do Commercio.
Prédio
A
data de fundação da Biblioteca Rio-Grandense é de 15 de agosto de 1846,
instituição que surgiu por iniciativa e apelo de Barbosa Coelho dirigido a um
grupo da elite local quando de um encontro na residência de José Antonio Ramos.
O nome inicial foi de Gabinete de Leitura, sendo o primeiro presidente Barbosa
Coelho e o primeiro secretário Manoel Coelho da Rocha Júnior.
Os
estatutos foram aprovados nos dias 21 e 22 de setembro de 1846 e o primeiro
bibliotecário foi o próprio Barbosa Coelho. O prédio inaugural situava-se num
sobrado localizado à Rua do Arsenal (rua Ewbank). A primeira compra de livros
foi efetuada por Barbosa Coelho e a primeira doação foi realizada por Malaquias
José Neto.
Em
3 de novembro de 1847, a Biblioteca foi instalada no prédio nº 146, 2º andar, à
Rua da Praia (rua Marechal Floriano). Em
1866 mudou-se para a rua Direita (rua General Bacelar).
Conforme
registros da época, frente à situação financeira para garantir à manutenção de
suas atividades, surgiu o amparo do Barão de Vila Izabel. Na ocasião, ele tomou
várias medidas para restabelecer o prestígio e o crédito da histórica
instituição, assumindo a presidência desta em 14 de janeiro de 1878.
No
dia 4 de junho do mesmo ano, o Gabinete de Leitura foi extinto e surgiu a atual
denominação Biblioteca Rio-Grandense. O instituto perde então seu caráter de
sociedade privada, a sua feição original, assumindo as características de
biblioteca popular. Ainda em 1878, a Biblioteca foi transferida para segundo andar
do nº 71 da rua Riachuelo.
Ampliando
sua atuação educadora, a partir de 7 de Março de 1879, tem início as
conferências literárias. A conferência inaugural foi proferida pelo então
estudante do segundo ano da Faculdade de Direito de São Paulo, Joaquim
Francisco de Assis Brasil. Este intelectual, que teve um destacado papel
político no Rio Grande do Sul, escreveu em 1882 uma história da República Rio-Grandense
em direção à constituição de uma história popular de caráter regional. Em 1880,
a Biblioteca contava com um acervo de 16 mil volumes, o que é considerável para
a época.
A
aquisição de um prédio mais espaçoso para a Biblioteca ocorreu na gestão do
Visconde Pinto da Rocha, quando a Biblioteca comprou da municipalidade um
casarão localizado na esquina das ruas General Netto e Osório (antiga casa da
Câmara). O governo municipal adquiriu um imóvel localizado na esquina das ruas
General Netto e Floriano Peixoto – prédio da Prefeitura que recentemente
incendiou. Construído em 1824 pelo comerciante Joaquim Rasgado, o prédio foi
residência da família Tigre, sendo alugado para os clubes Diógenes e Saca –
Rolhas e para a Intendência Municipal e câmara de vereadores, após 1886.
Finalmente,
no ano de 1900, com o fim da reforma e estabelecimento da prefeitura no antigo
casarão do Rasgado, o chamado “prédio da câmara” tornou-se a sede que até hoje
guarda o precioso acervo da Biblioteca. As ampliações e reformas ocorridas a
partir da década de 1910 promoveram alterações radicais na funcionalidade e
estilo do prédio, que foi sendo adaptado às necessidades do acervo.
Em
1917 a Biblioteca contava com 41 mil volumes, elevando-se em 1943 a 83 mil.
Para maior aprofundamento, o livro de Francisco das Neves Alves, Biblioteca Rio-Grandense: textos para o
estudo de uma instituição a serviço da cultura, apresenta um amplo
levantamento de informações sobre a Biblioteca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário