Antoniela Rodriguez, Elana Mazon e Maria da Graça Siqueira
Todos os dias chegam aos
meios de comunicação vários casos de agressão, das mais diversas naturezas, que
acontecem dentro das escolas. Essas práticas violentas, físicas ou
psicológicas, que acontecem intencional e repetitivamente, são denominadas bullying. O termo, sem tradução no
português, tem origem na palavra bully,
que em inglês significa valentão, brigão.
O fenômeno acontece em
qualquer contexto, não se restringindo a nenhuma classe social ou faixa etária,
e traz sérias consequências para as vítimas. Risadas, empurrões, apelidos
inconvenientes, fofocas, exclusão de um determinado grupo ou quaisquer atitudes
com a intenção de humilhar o outro, são exemplos de bullying.
Comportamentos deste tipo sempre
existiram no mundo todo. Porém, foi na década de 70, na Europa, que começaram
as primeiras pesquisas sobre o assunto. Famílias da Escandinávia perceberam
que as crianças adoeciam, e chegavam em casa com queixas de humilhação e maus
tratos entre colegas. O professor Dan
Olweus, da Noruega, começou a estudar esse assunto. Constatou que sete entre 10 alunos estavam
envolvidos com o bullying, sendo
agressores ou vítimas. Percorreu então
toda a Europa, e assim foram surgindo pesquisas e estudos. Hoje, a professora
Cleodelice Aparecida Zonato Fante,
uma das fundadoras do Cemeobes (Centro Multidisciplinar de Estudos e
Orientação sobre o Bullying Escolar), estuda essa questão e já escreveu o
livro “Fenômeno Bullying- Como Prevenir A Violência Nas Escolas E Educar
Para A Paz”.
Exemplo de Responsabilidade
No Instituto de Educação
Estadual Assis Brasil, escola de Pelotas, a pedagoga e orientadora educacional
Sônia Sirlei Machado Aguiar, relata que a preocupação com o bullying é constante. Desde 2008, a
equipe do Serviço de Orientação Educacional (SOE) desenvolve um projeto de
conscientização sobre o tema, que envolve direção, professores, pais e alunos.
O trabalho, que foi motivado pelo grande número de queixas recebidas pelos
profissionais da escola, começou com uma pesquisa entre toda a equipe escolar.
Dos cerca de 2800 alunos, 397 que responderam ao questionário se sentiam
vítimas, revelando que uma grande porcentagem dos alunos sofria algum tipo de
agressão. Alguns deles relataram que, apesar de se sentirem muito humilhados,
não sabiam que certas atitudes, como receber apelidos, podiam prejudicá-los.
O
agressor pode já ter passado por uma questão de vitimização, ou seja, ter sido
uma vítima. Como o exemplo recente, do jovem assassino da escola em Realengo,
no Rio de Janeiro. Sônia reconhece que, desde que começou o programa, não
obtiveram melhora ou diminuição nesses casos, mas percebe que os alunos ficaram
mais abertos, e há mais procura de ajuda.
O que ficou de importante
da entrevista com a pedagoga é que o bullying já existia há muito tempo na
escola, e que as vítimas sempre dividem a angústia com os amigos, pois
sentem-se envergonhados de relatar o problema, por conta da humilhação. A Lei 13.474/2010, conhecida como
Antibullying, e de combate ao bullying, foi publicada no Diário Oficial do
Estado em 29.06.2010.
A visão da psicologia
Segundo a psicóloga Rosária Sperotto, a vítima de
bullying é sempre a mais frágil, a que sofre todo tipo de preconceito. Pode ser
preconceito de cor, de altura, de peso ou até pela simples diferença, no que
faz ou como age. As consequências poderão ser desde a baixa autoestima até a
depressão. Sendo ainda, um problema de falta de sociabilidade em ambos os
lados, pois agressor ou vítima não encontram outra maneira de convívio. Um só
existe em função do outro, que permite a ação. Mas como o homem é resultado do
meio em que vive, é possível que qualquer um dos dois revertam a situação, com
ou sem ajuda externa, dependendo apenas de questões de personalidade.
Rosária diz ainda, que esse é um problema
encontrado não só em escolas de nível fundamental ou médio, mas também em
universidades. Antes de encerrarmos a entrevista, a psicóloga fez questão de
lembrar, que hoje está muito na moda o “cyberbullying”, que consta do mesmo
problema de violência, porém usando a internet. Desde filmagens sobre a
privacidade de alguém exposta nas redes sociais, até a gravação, com a câmera
do celular, de momentos de luta corporal. A psicóloga considera esse tipo de
violência mais cruel, haja vista a dificuldade de se encontrar o agressor,
protegido pelas facilidades do mundo virtual.
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