Pensamentos



"A sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor." ALBERTO DINES


domingo, 10 de julho de 2011

TV: o jornalismo visual

Ezekiel Dall'Bello

      Em palestra no dia 29 de Junho na Universidade Federal de Pelotas, o jornalista André Lapuente falou a estudantes da instituição sobre o processo de produção de notícias em telejornalismo. O profissional, que se considera um “dinossauro” da TV, começou a trabalhar com produção de vídeos desde a época em que Pelotas tinha só cerca de 1.000 videocassetes, acompanhando todo o desenvolvimento tecnológico.
        Lapuente, que lecionou por 22 anos na Universidade Católica de Pelotas e trabalhou na RBS, foi com o intuito de conversar mais com os acadêmicos, e não fazer uma palestra propriamente dita. E logo iniciou essa conversa introduzindo a plateia na questão do texto para TV.
        Tudo começa pelo texto. Ao se escrever para TV, devemos contar uma história com início, meio e fim, como se estivéssemos conversando com um amigo (linguagem do dia-a-dia). O texto deve estar claro e direto para diferentes tipos de espectadores. Exato e conciso, em linguagem simples. Telejornal tem de ter texto dinâmico, que seja abrangente a todo público. Mas também tem que ter formalismo.
        Ainda não podemos esquecer que o texto para TV é sempre acompanhado de imagens. Mas a TV não é imagem. São laços sociais. O texto não deve descrever a imagem, mas sim explica-la e complementá-la de forma direta (pois o tempo e espaço na TV são curtos). Entre duas palavras, escolha a mais simples. Entre duas simples, escolha a menor. A matéria pode ser montada de várias formas, mas tem de trazer o entendimento com começo, meio e fim.
        Deve-se ter bom senso na escolha do material a ser publicado. O leitor não pode ficar sobrecarregado. Simplicidade é a principal regra na construção. Mas não devemos ter pobreza de vocabulário, mas sim um texto claro, leve e objetivo. Simples.
        O espectador que está na frente da TV não tem a possibilidade de “voltar”, de retornar ao assunto como na web, por exemplo. Por isso a importante questão da compreensão. O público não pode e não deve ficar com dúvidas.
        Aonde estamos inseridos? Qual a ideia da emissora? Um dos primeiros conflitos que aparece é o de interesses, quando o jornalista quer abordar uma coisa e a emissora outra. O profissional deve seguir a linha editorial da empresa, não se pode ter a visão de que é viável se fazer de tudo.
        Sobre a RBS, André afirmou que o telejornal do grupo perdeu muito espaço. Modificou-se sua estrutura de trabalho para dar mais espaço para o comercial. Matérias mais fracas e mais publicidade. “O Jornal do Almoço não é mais o Jornal do Almoço. É uma revista eletrônica que nos é apresentada”, comentou.
        No mercado, todas emissoras se conhecem e sabem o potencial de cada uma. O Diário Popular é um jornal muito referencial. Ele tem fontes em todas as áreas. Já na TV moderna, há uma contínua procura pelo espetáculo, com pouca informação (como a Globo faz, com Tiago Leifert, por exemplo). “A matéria não precisa ser ‘quadradinha’, mas deve-se seguir as fases de produção.”
        Nos processos de edição da imagem na televisão, o jornalista nos diz que existe a edição linear (trabalha com o corte “seco”, sai uma imagem e entra outra imediatamente) e a edição não-linear (tudo que se tem no computador e pode misturar; tem um produto final muito melhor; “Pode-se fazer 1001 coisas”; “o Premiere é a base dos programas”). Hoje só se trabalha com a imagem digital. A analógica não é mais utilizada.
        Quanto à captura de imagens para a TV, o jornalista afirma que “o sujeito não tem que ser um grande cinegrafista, mas deve ser conhecedor da imagem. O repórter e o cinegrafista, quando saem para produzir, devem ser um só.” Ressalta também que “o repórter não foi feito para aparecer. Ele foi feito para trazer a informação. Quem aparece é o comentarista.”
        O repórter tem muita responsabilidade. Ele não pode se desculpar dizendo que não teve como produzir. A matéria tem de sair, nem que seja uma matéria gaveta, aquela que está guardada para quando for necessário. “TV é muito trabalho: horas sem sono, horas sem comer, sem descanso, sem tempo. Fazemos de tudo pela produção. Só não podemos deixar de produzir.”
        Por fim, comentou a questão do posicionamento do jornalista, dizendo que imparcialidade não existe. “Na própria construção da matéria fazemos escolhas e definimos o que escrever e colocar. O jornalista se posiciona sim.” Contudo, deve-se ter cuidado para a credibilidade não ser afetada. “A credibilidade do jornalista é tudo”, diz Lapuente. “Ela está condicionada à quantidade e a qualidade das fontes. Não podemos recolher informação somente de uma fonte ou de qualquer fonte acerca do assunto”, finalizou.

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