Ezekiel Dall'Bello
Em palestra no dia 29 de Junho na
Universidade Federal de Pelotas, o jornalista André Lapuente falou a estudantes
da instituição sobre o processo de produção de notícias em telejornalismo. O profissional,
que se considera um “dinossauro” da TV, começou a trabalhar com produção de
vídeos desde a época em que Pelotas tinha só cerca de 1.000 videocassetes,
acompanhando todo o desenvolvimento tecnológico.
Lapuente, que lecionou por 22 anos na
Universidade Católica de Pelotas e trabalhou na RBS, foi com o intuito de
conversar mais com os acadêmicos, e não fazer uma palestra propriamente dita. E
logo iniciou essa conversa introduzindo a plateia na questão do texto para TV.
Tudo começa pelo texto. Ao se escrever
para TV, devemos contar uma história com início, meio e fim, como se
estivéssemos conversando com um amigo (linguagem do dia-a-dia). O texto deve
estar claro e direto para diferentes tipos de espectadores. Exato e conciso, em
linguagem simples. Telejornal tem de ter texto dinâmico, que seja abrangente a
todo público. Mas também tem que ter formalismo.
Ainda não podemos esquecer que o texto
para TV é sempre acompanhado de imagens. Mas a TV não é imagem. São laços
sociais. O texto não deve descrever a imagem, mas sim explica-la e
complementá-la de forma direta (pois o tempo e espaço na TV são curtos). Entre
duas palavras, escolha a mais simples. Entre duas simples, escolha a menor. A
matéria pode ser montada de várias formas, mas tem de trazer o entendimento com
começo, meio e fim.
Deve-se ter bom senso na escolha do
material a ser publicado. O leitor não pode ficar sobrecarregado. Simplicidade
é a principal regra na construção. Mas não devemos ter pobreza de vocabulário,
mas sim um texto claro, leve e objetivo. Simples.
O espectador que está na frente da TV
não tem a possibilidade de “voltar”, de retornar ao assunto como na web, por
exemplo. Por isso a importante questão da compreensão. O público não pode e não
deve ficar com dúvidas.
Aonde estamos inseridos? Qual a ideia da
emissora? Um dos primeiros conflitos que aparece é o de interesses, quando o
jornalista quer abordar uma coisa e a emissora outra. O profissional deve
seguir a linha editorial da empresa, não se pode ter a visão de que é viável se
fazer de tudo.
Sobre a RBS, André afirmou que o
telejornal do grupo perdeu muito espaço. Modificou-se sua estrutura de trabalho
para dar mais espaço para o comercial. Matérias mais fracas e mais publicidade.
“O Jornal do Almoço não é mais o Jornal do Almoço. É uma revista eletrônica que
nos é apresentada”, comentou.
No mercado, todas emissoras se conhecem
e sabem o potencial de cada uma. O Diário Popular é um jornal muito
referencial. Ele tem fontes em todas as áreas. Já na TV moderna, há uma
contínua procura pelo espetáculo, com pouca informação (como a Globo faz, com Tiago
Leifert, por exemplo). “A matéria não precisa ser ‘quadradinha’, mas deve-se
seguir as fases de produção.”
Nos processos de edição da imagem na
televisão, o jornalista nos diz que existe a edição linear (trabalha com o
corte “seco”, sai uma imagem e entra outra imediatamente) e a edição não-linear
(tudo que se tem no computador e pode misturar; tem um produto final muito
melhor; “Pode-se fazer 1001 coisas”; “o Premiere é a base dos programas”). Hoje
só se trabalha com a imagem digital. A analógica não é mais utilizada.
Quanto à captura de imagens para a TV, o
jornalista afirma que “o sujeito não tem que ser um grande cinegrafista, mas
deve ser conhecedor da imagem. O repórter e o cinegrafista, quando saem para
produzir, devem ser um só.” Ressalta também que “o repórter não foi feito para
aparecer. Ele foi feito para trazer a informação. Quem aparece é o
comentarista.”
O repórter tem muita responsabilidade.
Ele não pode se desculpar dizendo que não teve como produzir. A matéria tem de
sair, nem que seja uma matéria gaveta, aquela que está guardada para quando for
necessário. “TV é muito trabalho: horas sem sono, horas sem comer, sem
descanso, sem tempo. Fazemos de tudo pela produção. Só não podemos deixar de
produzir.”
Por fim, comentou a questão do
posicionamento do jornalista, dizendo que imparcialidade não existe. “Na
própria construção da matéria fazemos escolhas e definimos o que escrever e colocar.
O jornalista se posiciona sim.” Contudo, deve-se ter cuidado para a
credibilidade não ser afetada. “A credibilidade do jornalista é tudo”, diz
Lapuente. “Ela está condicionada à quantidade e a qualidade das fontes. Não
podemos recolher informação somente de uma fonte ou de qualquer fonte acerca do
assunto”, finalizou.
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