Música x Ditadura
Jonathan Silva, Luis Alexandre Alves e Paola Fernandes
1964:
um ano que o Brasil jamais esquecerá. Os militares depuseram o então presidente
João Goulart e tomaram o poder, dando início ao que seria um dos momentos mais
conturbados da história nacional. O povo não tem mais direito à escolha, não
pode discordar de nada e a democracia se perdeu pelas repressões da ditadura.
Exílios, torturas, perseguições e mortes marcaram este período, provocando uma
verdadeira mancha de sangue na história do Brasil.
Um
grito contido:
“Fica expressamente proibida a publicação de: notícias, comentários, entrevistas ou critérios de qualquer natureza(...)”
Assim ficava determinada a censura a qualquer tipo
de manifestação contra o Regime Militar no Brasil com o quinto ato
institucional de 13 de dezembro de 1968, baixado pelo governo militar. Este ano
foi um marco na história mundial. Jovens de todo mundo seguiram o exemplo da
juventude francesa e se rebelaram contra o sistema. No Brasil, nesse período, a
ditadura chegaria ao seu ápice com os chamados Anos de Chumbo, no
governo Médici (1969-1974). A repressão foi a marca do governo do presidente
gaúcho.
Filme:
Uma noite em 67
Era 21 de outubro de 1967. No Teatro
Paramount, centro de São Paulo, acontecia a final do III Festival de Música
Popular Brasileira da TV Record. Diante de uma plateia fervorosa - disposta a
aplaudir ou vaiar com igual intensidade -, alguns dos artistas hoje fundamentais
para a MPB se revezavam no palco para competir entre si. As canções se
tornariam emblemáticas, mas até aquele momento permaneciam inéditas. Entre os
12 finalistas, Chico Buarque e o MPB vinham com “Roda Viva”; Caetano Veloso,
com “Alegria, Alegria”; Gilberto Gil e os Mutantes, com “Domingo no Parque”;
Edu Lobo, com “Ponteio”; Roberto Carlos, com o samba “Maria, Carnaval e Cinzas”; e Sérgio Ricardo, com “Beto Bom de Bola”. A briga tinha tudo para ser
boa. E foi. Entrou para a história dos festivais, da música popular e da
cultura do País.
(Fonte: http://www.umanoiteem67.com.br)
Vem,
vamos embora que esperar não é saber
(Pra
não dizer que não falei das flores)
Mesmo
com as retalhações a qualquer tipo de oposição ao regime, foi neste período que
a resistência cresceu. Do movimento estudantil aos sindicatos, a mobilização
foi grande. Em um dos poucos momentos da história brasileira, partes de toda
sociedade lutaram lado a lado pelo mesmo motivo: a redemocratização do país.
Na
música não poderia ter sido diferente. A produção artística teve um importante
papel nessa resistência. Nem as tantas mortes e torturas puderam abafar a voz
de quem cantava os sonhos e a vontade do povo brasileiro. Eles também se
rebelaram contra esse regime e entre os mais conhecidos podemos destacar nomes
como:
Belchior, Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Kid Abelha, Milton Nascimento, Nara Leão, Plínio Marcos, Raul Seixas, Renato Russo, RobertoCarlos, Taiguara, Toquinho, Odair José, Tom Jobim, Torquato Neto, Vinícius deMorais e Zé Keti.
Minha gente hoje anda falando
de lado e olhando para o chão
(Apesar de você)
Em tempos de proibição, como se
expressar contra aquilo que você não pode se opor? Essa era a grande questão.
Muitas músicas foram censurdas e algumas nem se quer foram gravadas. Outras
tiveram que ter sua letra alterada. Contudo, foi no duplo sentido que os
artistas acharam uma forma de protesto.
Na época era proibido fazer qualquer
crítica ao regime, mas através de músicas aparentemente sem contexto político
que falavam de amor, de religião e de outros tantos temas, essas composições
criticavam a ditadura militar de forma implícita. Em tempos de se falar baixo e
pelos cantos essa foi a grande sacada dos compositores. Temos grandes exemplos como a música Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil. Nesta composição, usa-se o
termo “cale-se” no contexto religioso como “cálice”, mas no sentido de calar, não
deixar falar: “Pai afasta de mim esse cálice(...)”
Outra
canção muito lembrada é Debaixo dos caracois dos seus cabelos, do rei Roberto Carlos. Quem a escuta logo pensa
no tom apaixonado do rei, mas muito se engana quem pensa que ela foi feita para
uma mulher. A música foi composta para o amigo de cabelos cacheados, Caetano
Veloso, que se encontrava exilado na Inglaterra. Ela fala de saudade, e esse
era o maior sentimento do amigo que teve de sair do Brasil.
Célebres que viraram história
Algumas músicas viraram verdadeiros
cantos e símbolos de luta sendo lembradas e cantadas até hoje. Entre as
diversas brilhantes composições, Para nãodizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, foi praticamente um
chamado ao povo em 1968, que marcou o período como uma das canções mais
lembradas.
Chico Buarque também foi um compositor
de mãos cheias: a própria Cálice (com
Gilberto Gil), O que será (A flor da pele) e Roda-viva
entre outras foram algumas de suas artes. Temos ainda como destaque Apesar de você, que cantava aos quatro
cantos Amanhã vai ser outra dia(...), e era
uma composição direta àquele que ficou conhecido como o presidente mais linha
dura do regime, o bageense Médici. Caetano Veloso não foi apenas o centro da Debaixo dos caracois dos seus cabelos,
do rei, mas também emplacou sucessos, como a memorável Alegria Alegria.
Passeata dos cem mil |
Sinto vir vindo no vento cheiro
da nova estação
(Como nossos pais)
O desfecho dessa grande luta que
mobilizou estudantes, jornalistas, professores, políticos, donas de casa,
trabalhadores, artistas e diversas partes da sociedade em incansáveis
mobilizações, passeatas e atos se deu 20 anos após a tomada do poder: em 1984.
A campanha das Diretas Já! devolveu
os direitos ao povo e acabou com a censura. Derrubou a ditadura e permitiu que
a populução brasileira se manifestasse diante de suas escolhas. O Brasil era um
país redemocratizado.
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