Pensamentos



"A sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor." ALBERTO DINES


domingo, 10 de julho de 2011

"Uma imagem vale mais que mil palavras": Será?


 Assim como os cinegrafistas são muito importantes para as reportagens da Tv, no jornalismo impresso a fotografia é um importante elemento na construção do conteúdo. Procurando descobrir se uma imagem tem mesmo mais importância do que um texto e como é a vida de quem narra uma situação através de imagens, resolvemos procurar quem está no dia-dia da mídia impressa: os repórteres fotográficos.
Mas será que uma boa imagem substitui um bom texto? Para entender essa relação entre a imagem e reportagem, resolvemos entrevistar Deyver Dias (foto), fotógrafo do jornal Agora, o jornal mais lido de Rio Grande – RS.

 
Há quatro anos trabalhando no "Agora", e com muitas situações curiosas para contar, Deyver deu uma pausa entre uma foto e outra, e aceitou responder alguns questionamentos sobre a relação entre imagem, texto e reportagem.
 Confira abaixo os principais trechos da sua entrevista.



Acadêmicos da Notícia - Qual a importância da imagem no contexto da reportagem?
Deyver Dias - Uma foto pode dizer muito mais que um texto. Muitas vezes tu lê um texto e não compreende do que se trata, mas olhando uma imagem tu vai enxergar  ali o que está acontecendo. Esse é, talvez, o grande desafio do fotógrafo: fazer uma imagem que explique toda a situação.

AN - Qual a relação entre imagem e texto?
Deyver - Uma coisa complementa a outra. Não se pode fazer uma foto que não tenha nada a ver com o texto ou vice-versa. Por isso a importância do repórter e do fotógrafo estarem sempre conversando, sempre em sintonia para fazerem um bom trabalho.

AN - Uma boa imagem pode dizer mais que um bom texto?
Deyver - Com certeza. A fotografia também é uma forma de reportar algo. Uma boa imagem pode construir muito mais sentido no leitor do que um texto. Temos no site do jornal, a “Imagem do dia”, onde os leitores comentam apenas uma imagem que é publicada diariamente. E ali nós percebemos o quanto a construção de sentido de uma foto é importante e como a informação daquela imagem repercute nos nossos leitores internautas. O interessante é que, nesse caso, não há uma reportagem acompanhando a imagem. É só a foto e os comentários dos leitores.

AN - E uma foto pode sugerir uma pauta? Já aconteceu contigo?
Deyver - Se for boa, pode sim. Recentemente fomos fazer uma matéria em uma escola aqui de Rio Grande, e a pauta se tratava de uma peça de teatro que era encenada em sala de aula. No intervalo, os alunos brincavam no pátio, muito próximos a poças de água suja, lama mesmo, e isso me chamou a atenção e comecei a fotografar aquilo.  Com as fotos sugeri uma pauta sobre a precariedade do prédio daquela escola e das más condições do pátio, onde os alunos brincavam. Isso depois se transformou em uma série de reportagens do jornal, sobre as dificuldades enfrentadas por algumas escolas aqui do município. Precisamos sempre estar atentos a tudo e a todos quando saímos para fazer uma matéria.

AN - Dentre as opções disponíveis atualmente para os fotógrafos, qual na tua opinião é a ferramenta mais importante para se obter uma boa foto? Câmera, lente ou recursos de edição?
Deyver - Sou inteiramente contra imagem editada. Acredito que para se descrever bem uma situação, o talento e a percepção do fotógrafo são imprescindíveis.  Não adianta nada se ter um ótimo equipamento e não saber perceber o momento certo para se capturar a imagem. É claro que hoje existem câmeras e lentes que ajudam bastante o trabalho do fotógrafo. Mas o talento em perceber a cena, o ambiente e o momento são essenciais.

AN - Sobre aquelas imagens publicadas no jornal em que as pessoas aparecem com rosto desfocado, para não identificar, qual a tua opinião?
Deyver - Eu sou contra. Acho que tem que mostrar. Claro que tem que se respeitar a linha editorial do jornal e se isso for uma regra, não identificar o rosto das pessoas, eu como empregado daquele veículo tenho que aceitar. Porque se caso eu publicar uma foto em desconformidade com a linha editorial do jornal, teria que arcar com a responsabilidade em um eventual processo judicial, então é melhor não. Mas se o jornal fosse meu, eu publicaria.

AN - Em situações de perigo, em que há possíveis vítimas, como tu agirias? Faz a foto? Ou tenta ajudar?
Deyver - Primeiramente eu tiro a foto, depois eu vejo o que dá pra fazer. Mas esse é o eterno dilema para nós profissionais da informação. Acho que quanto menos eu me envolver na pauta melhor. Claro que tem situações que eu confesso que não gosto de cobrir, como morte de criança, mas fora isso tento agir o mais profissional possível.

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