Assim como os cinegrafistas são muito importantes
para as reportagens da Tv, no jornalismo impresso a fotografia é um importante elemento
na construção do conteúdo. Procurando descobrir se uma imagem tem mesmo mais
importância do que um texto e como é a vida de quem narra uma situação através
de imagens, resolvemos procurar quem está no dia-dia da mídia impressa: os
repórteres fotográficos.
Mas
será que uma boa imagem substitui um bom texto? Para entender essa relação
entre a imagem e reportagem, resolvemos entrevistar Deyver Dias (foto), fotógrafo do
jornal Agora, o jornal mais lido de Rio Grande – RS.
Há quatro anos trabalhando no "Agora", e com muitas situações curiosas
para contar, Deyver deu uma pausa entre uma foto e outra, e aceitou responder
alguns questionamentos sobre a relação entre imagem, texto e reportagem.
Confira
abaixo os principais trechos da sua entrevista.
Acadêmicos
da Notícia - Qual
a importância da imagem no contexto da reportagem?
Deyver
Dias - Uma foto pode dizer muito mais que um texto. Muitas
vezes tu lê um texto e não compreende do que se trata, mas olhando uma imagem
tu vai enxergar ali o que está
acontecendo. Esse é, talvez, o grande desafio do fotógrafo: fazer uma imagem
que explique toda a situação.
AN
- Qual a relação entre
imagem e texto?
Deyver
- Uma
coisa complementa a outra. Não se pode fazer uma foto que não tenha nada a ver
com o texto ou vice-versa. Por isso a importância do repórter e do fotógrafo
estarem sempre conversando, sempre em sintonia para fazerem um bom trabalho.
AN
- Uma boa imagem pode dizer
mais que um bom texto?
Deyver - Com
certeza. A fotografia também é uma forma de reportar algo. Uma boa imagem pode
construir muito mais sentido no leitor do que um texto. Temos no site do
jornal, a “Imagem do dia”, onde os leitores comentam apenas uma imagem que é
publicada diariamente. E ali nós percebemos o quanto a construção de sentido de
uma foto é importante e como a informação daquela imagem repercute nos nossos
leitores internautas. O interessante é que, nesse caso, não há uma reportagem
acompanhando a imagem. É só a foto e os comentários dos leitores.
AN
- E uma foto pode sugerir
uma pauta? Já aconteceu contigo?
Deyver - Se
for boa, pode sim. Recentemente fomos fazer uma matéria em uma escola aqui de
Rio Grande, e a pauta se tratava de uma peça de teatro que era encenada em sala
de aula. No intervalo, os alunos brincavam no pátio, muito próximos a poças de
água suja, lama mesmo, e isso me chamou a atenção e comecei a fotografar aquilo. Com as fotos sugeri uma pauta sobre a
precariedade do prédio daquela escola e das más condições do pátio, onde os
alunos brincavam. Isso depois se transformou em uma série de reportagens do
jornal, sobre as dificuldades enfrentadas por algumas escolas aqui do
município. Precisamos sempre estar atentos a tudo e a todos quando saímos para
fazer uma matéria.
AN
- Dentre as opções
disponíveis atualmente para os fotógrafos, qual na tua opinião é a ferramenta
mais importante para se obter uma boa foto? Câmera, lente ou recursos de
edição?
Deyver - Sou
inteiramente contra imagem editada. Acredito que para se descrever bem uma
situação, o talento e a percepção do fotógrafo são imprescindíveis. Não adianta nada se ter um ótimo equipamento e
não saber perceber o momento certo para se capturar a imagem. É claro que hoje
existem câmeras e lentes que ajudam bastante o trabalho do fotógrafo. Mas o
talento em perceber a cena, o ambiente e o momento são essenciais.
AN
- Sobre aquelas imagens
publicadas no jornal em que as pessoas aparecem com rosto desfocado, para não
identificar, qual a tua opinião?
Deyver - Eu
sou contra. Acho que tem que mostrar. Claro que tem que se respeitar a linha
editorial do jornal e se isso for uma regra, não identificar o rosto das
pessoas, eu como empregado daquele veículo tenho que aceitar. Porque se caso eu
publicar uma foto em desconformidade com a linha editorial do jornal, teria que
arcar com a responsabilidade em um eventual processo judicial, então é melhor
não. Mas se o jornal fosse meu, eu publicaria.
AN
- Em situações de perigo,
em que há possíveis vítimas, como tu agirias? Faz a foto? Ou tenta ajudar?
Deyver - Primeiramente
eu tiro a foto, depois eu vejo o que dá pra fazer. Mas esse é o eterno dilema
para nós profissionais da informação. Acho que quanto menos eu me envolver na
pauta melhor. Claro que tem situações que eu confesso que não gosto de cobrir,
como morte de criança, mas fora isso tento agir o mais profissional possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário