Ândria Völz, Natália Elsenbach e Vanessa Lilja
Para os gaúchos, quando se fala em Pelotas,
a primeira lembrança é das delícias de doces que são produzidos na cidade. Até
quem não é do estado conhece a fama de Pelotas. Os quindins, os pasteis de
Santa Clara, os bem-casados e outros muitos chegam a dar água na boca de quem
já os provou. Mas o que poucos sabem é o porquê de Pelotas ser a “cidade do
doce”, e que ainda conta com uma cooperativa de doceiras, que objetivam
preservar a verdadeira essência dessa cultura.
História do Doce em Pelotas
É difícil definir exatamente quando os doces surgiram em Pelotas.
Sabe−se que sua origem teve influência portuguesa, aproximadamente na década de
1860. Sua produção caseira, feita pelas mulheres e suas mucamas. O açúcar
utilizado era proveniente da região Nordeste do Brasil, em troca do charque.
Os imigrantes italianos e alemães também fizeram sua parte nessa
cultura. Eles trouxeram e criaram suas fórmulas de doces com frutas, como
banana, pêssego, morango, abóbora, e outros, que originam compotas, schimias ou
geléias, doces cristalizados, e doces em pasta.
A importância para o desenvolvimento da cidade é tão acentuada que desde
1986 realiza-se a FENADOCE – Feira
Nacional do Doce – contando, hoje, com a visitação de mais de 300 mil pessoas a
cada ano do evento.
"Pelotas pode ser considerada, sem nenhum exagero, a terra do doce, do mesmo modo que foi o berço das charqueadas, dos salões faustosos, das grandes damas, dos barões beneméritos, dos poetas românticos" (MAGALHÃES, Mário Osório. Doces de Pelotas: Tradição e História. Pelotas, 2001).
Cooperativa dos doceiros de Pelotas
Ao
entrar no quiosque da Cooperativa dos doceiros de Pelotas
contemplamos a saborosa visão dos mais de 33 doces por eles produzidos e
comercializados. Encontra-se desde os doces finos de Pelotas - receitas
oriundas da colonização portuguesa - como a Fatia de Braga, Pastel Santa Clara,
Camafeus, até os mais populares como bombom de morango, tortinha de limão, quindim
de nozes, entre outras delícias.
A cooperativa foi fundada em 1982
por um grupo de doceiros tradicionais da cidade, com o intuito de formar uma
organização que primasse pela preservação dos costumes e qualidade dos doces, dando
continuidade às receitas recebidas como herança familiar portuguesa. Também ajudaram a fundar a
Fenadoce, que apesar de hoje ser uma feira de repercussão nacional, em 1986,
foi realizada em bancas emprestadas pela feira do livro.
Em conversa com Ligia Maria Ribeiro (foto), presidente da Cooperativa, perguntamos a
ela qual o doce mais procurado, ao que respondeu ser os bombons de morango,
quindins e ninhos. Contudo, ela lamenta a perda das origens da cultura doceira
em Pelotas.
A
tradição teve início em meados do século XIX, onde as doceiras utilizavam
tachos de cobre em seus fogões a lenha. Valiam-se de ingredientes como o leite,
o açúcar, a farinha, e os ovos e frutas que vinham das colônias formadas na
cidade de Pelotas pelos imigrantes alemães e italianos.
Hoje elas utilizam panelas a vapor e
fogões industriais, e ainda trocam seus ingredientes caseiros por leite
condensado e chocolate em barra derretido. Apesar de estar entre os mais requisitados,
os bombons de morango, damasco ou cereja não foram os que deram à Pelotas o
reconhecimento como capital do doce.
Ligia lamenta o fato das doceiras - e a
própria Fenadoce - não atentarem para esse aspecto, da pouca valorização aos
doces tradicionais pelotenses. Antigamente, a diferença do sabor do doce
poderia variar de acordo com o tacho utilizado ou o tempo de cozimento. Hoje em
dia, o sabor difere de acordo com a marca do leite condensado, do chocolate, e
talvez ainda dependa do uso de aromatizantes. Por isso as receitas de
antigamente já não se reproduzem nos doces de agora.
A Cooperativa tem cerca de 30 sócios,
sendo um dos mais conhecidos núcleos de produção de doce. É onde se encontram
as mais antigas doceiras, que ainda utilizam as receitas originais, legado das
avós e mães que transmitem de geração à geração a tradição culinária de suas
origens.
Localiza-se no Calçadão da Andrade
Neves e em 2012 irá comemorar seu 30º aniversário. No mesmo ano,, Pelotas
completará 200 anos, e a Coodopel espera que seja possível a aquisição
de um espaço no Mercado
Público Pelotense, quando símbolo da cidade emergir da reforma para a festa
dos 200 anos.
Os mais
tradicionais doces de Pelotas são:
Camafeus - doces
de nozes moídas cobertos com glacê, decorados com meia noz.
Fatia de
Braga - doce de massa de amêndoas oriundo da cidade de Braga.
Ninhos (foto) - doce de fios-de-ovos recheado com doce de ovos.
Pastel de Santa Clara - massa fina e delicada, assada em forno com recheio de ovos moles.
Ninhos (foto) - doce de fios-de-ovos recheado com doce de ovos.
Pastel de Santa Clara - massa fina e delicada, assada em forno com recheio de ovos moles.
Ovos-moles - doce à
base de gemas e açúcar (tradicionais ovos moles de Aveiro).
Trouxa de
amêndoa - mesma Lampreia em tamanho pequeno.
Bem-casado - casal
de bolinhos, unidos com ovos moles de Aveiro e glaceados.
Carioquinha - doce de coco ralado em sua própria água, cozido em ovos moles e glaceado.
Carioquinha - doce de coco ralado em sua própria água, cozido em ovos moles e glaceado.
LEI Nº
11.919, DE 06 DE JUNHO DE 2003.
Declara
integrante do patrimônio cultural do Estado os doces artesanais de Pelotas.
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